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Guandu recebe a partir de hoje projeto Monumentos de Amor ao Rio Doce

De hoje (17/07) até domingo (22/07), em quatro diferentes locais da cidade Baixo Guandu, situada no Centro-Oeste Capixaba às margens do Rio Doce, serão dispostas mandalas de frutas para serem trocadas por cartas de amor ao rio. Sob a condução do artista Piatan Lube, essas intervenções urbanas fazem parte do projeto Monumento de Amor ao Rio Doce, residência artística que visa dar vazão à memória afetiva comunitária ao materializar nos escritos os laços afetivos que os habitantes das margens do rio têm com a biodiversidade e explicitar como essas comunidades ribeirinhas foram impactadas pelo crime ambiental de 2015.

Em uma época de diálogos instantâneos via tecnologia digital, corresponder-se afetivamente por meio de cartas parece ser algo ultrapassado e nostálgico. E é justamente esse sentimento de nostalgia ou de uma sensação de saudade intensa por um ente querido que o projeto Monumentos de Amor ao Rio Doce pretende registrar por meio de suas ações. Ao longo desses dias, também serão mobilizados os moradores locais, especialmente por meio de organizações comunitárias e de trabalhadores com relação direta como o rio, como pescadores e agricultores, para atenderem ao convite “Leve uma fruta e deixe uma carta de amor ao Rio Doce”.

Para Piatan Lube, diante das limitações e precariedades político-institucionais capitaneados pelos interesses do capital,  essa proposta é uma crença no potencial da arte como espaço político e social: “A voz ativista, de denúncia é calada sistematicamente a cada dia, e a arte parece ser o único ponto capaz de fazer aflorar outras posturas políticas. Queremos procurar o potencial artístico e crítico em cada comunidade e afirmamos uma nova postura do artista diante da criação de obras de arte, pois este monumento intervém dentro do coração dos nossos interlocutores, co-criadores, para fazer despertar um novo sentimento-realidade”.

Ao contrário dos monumentos construídos de forma a permanecer como objetos constantes, o Monumento aqui instituído é um monumento afetivo, relacional e que permanece inerente a memória afetiva e a identidade cultural das populações que possuem uma íntima relação com o Rio Doce. O projeto também desconstrói a ideia de monumento tradicional enquanto marco territorial rígido, uma arte pública que nem sempre é acolhida no coração do povo.

Ainda em 2018, o projeto também fará intervenções desse tipo na Vila de Regência Augusta, situada na foz do Rio Doce. Essas ações do projeto são um desdobramento de uma primeira edição realizada em 2017 na exposição coletiva “Deslizes Monumentais e Sonhos Intranquilos: A Estética dos Crimes Ambientais no Antropoceno”, na Galeria de Arte e Pesquisa (GAP) da  Universidade Federal do Espírito Santo e que contou com parceria do grupo Dissoa – Diálogos entre Sociologia e Arte e do núcleo Organon – Estudos, Pesquisa e Extensão em Mobilizações Sociais. Nessa ocasião foram geradas 280 cartas criadas por alunos, professores e pesquisadores da Ufes e outros moradores da região da Grande Vitória que participaram dos fóruns de debates que integravam a exposição. Uma das últimas etapas do projeto será o lançamento de uma publicação com todas as cartas produzidas previsto para acontecer ainda este ano.  

 
 
Monumentos de Amor ao Rio Doce
De 17 a 22 de junho – Baixo Guandu-ES
(Nos dias 17, 18 e 19 de junho, das 10h às 20h,  as mandalas serão montadas na Praça do Jardim – Baixo Guandu)
 
 
 
Sobre Piatan Lube
Artista socialmente engajado e multidisciplinar, Piatan Lube é mestre em Artes Visuais pela Ufes (2016), pesquisador e articulador comunitário, com projetos poéticos dentro da arte engajada com ecomuseus – práticas artística comunitárias e ativismo sensitivo. Nascido em Minas Gerais, no ninho poético do barroco mineiro, é filho de restaurador, conviveu com as cores das pinturas de Ataíde, as desformas e arranjos do mestre Aleijadinho, seu olfato acostumou-se aos perfumes do tempo, com os cheiros de cera de abelha derretida, e seu olhar aprendeu a lidar com pigmentos em pós mágicos que viravam homens e plantas. Cresceu em Piapitangui,  zona rural de Viana, onde pássaros orquestram as músicas das tardes e as águas desenham a paisagem – experiências marcantes de pertencimento que estão presentes no seu imaginário e o conduziram pelo curso de Artes da Ufes.

Artisticamente, Piatan potencializa as matérias de origens e suas significâncias funcionais na pós-modernidade: água, terra, flores, alimento, musgos e modos de convívio são a matéria e, ao mesmo tempo, os sentidos de sua poética. Trata-se de um artista que coloca-se em posição de escuta do mundo e deixa aflorar uma ancestralidade que não cabe em si para aderir à linhagem da arte site-specificity e site-oriented. É autor de projetos que se instalam no campo do real, com financiamentos de respeitados editais brasileiros (Funarte, Petrobras, Paço Imperial, IPHAN, Secult-ES), demonstram capacidade de mobilização e consagração comunitária na sua idealização, construção e execução, e ofertam acesso ao imaginário e ao espírito dos lugares, provocando boa reciprocidade com as cidades e seus moradores. Nas proposições desse artista o território físico é suporte e veículo de conscientização e somos convidados redescobrir o planeta, o lugar onde habitamos.